TRADUÇÃO VOLUME 5 NÚMERO 2
LAS CAMPANAS DE LA MEMORIA
I
En una esquina de la noche
una niña abraza sus piernas,
se balancea en trance y llora.
Las lágrimas bajan
por los costados del cuerpo,
caen sobre la calle empolvada
de un invierno sin lluvia.
Monstruos afloran
con rostro de hombre,
roban el grito de un horror,
tapan su boquita
de clavel prendido y gozan
del mismo gozo maldito
que ilumina el rostro de Shaytan.
Cierra los ojos, se ampara
en la oscuridad del dolor,
rasguña sus muslos como gato engañado,
hunde su rostro en los abismos.
II
Soraya tiene ojos de carbón.
Su cuerpo fino lleva el peso
de una infancia
manoseada por el destino.
La casa es su tumba;
el murmullo de la gente, su muerte.
Se mira al espejo y oscila el vientre;
ensaya la danza de la diosa madre.
Las campanillas sonoras
rodean su estrecho vientre
como el abrazo del amado.
Correa que ciñe el cuello del perro
hasta dejarlo sin aliento;
vientre agotado, surco de calambres,
tatuaje de una rabia implacable.
Soraya danza en la tarima
para fugarse de sí
y arrancar los clavos empotrados
en la carne de su memoria.
III
La memoria enjaula el tiempo.
IV
«¿Cuentos quieres, niña bella?
Tengo muchos que contar…»
La voz del padre se avecina
en el crepúsculo vespertino;
el catre temblante,
el aire impregnado de humo
de un cordero ardido
en el fogón de la cocina,
el aterrador silencio
de la complicidad
y Soraya detenida en un respiro.
«Dime tú: ¿de cuáles quieres?».
La risa entre los dientes, los dientes
entre los muslos; la punzada del asco
en la grieta que conduce al alma.
El salvaje clava su lengua de espuma
y tabaco en la garganta del ángel,
impide su llanto el aullido
del terror. Un brusco salto,
un tétrico gruñido:
costra que tapa muerte en vida,
llaga sangrante.
«Así fue. La joven bella
de tez blanca y negros ojos,
colmó los reales antojos…».
Cerca se escucha
el aterrador silencio de la complicidad.
V
Soraya vende su cuerpo, compra
alegría. Vende alegría, compra
olvido. Exorciza el presente
clavándose a la cruz de la lascivia,
mártir del placer y del vahído.
Erotismo fantasma la habita
y la ahuyenta, semilla catapulta
que la trajo a este mundo.
OS SINOS DA MEMÓRIA
I
Em um canto da noite
uma garota abraça as pernas,
balança em transe e chora.
Lágrimas descem
pelos lados do corpo,
caem na rua empoeirada
de um inverno sem chuva.
Monstros emergem
com rosto de homem,
roubam o grito de horror,
tapam sua boca
do cravo preso e gozam
do mesmo gozo maldito
que ilumina o rosto de Shaytan.
Fecha seus olhos, se ampara
na escuridão da dor,
arranha suas coxas como se fosse
um gato enganado,
afunda seu rosto nos abismos.
II
Soraya tem olhos de carvão.
Seu belo corpo carrega o peso
de uma infância
tateada pelo destino.
A casa é seu túmulo;
o murmúrio do povo, sua morte.
Ele se olha no espelho e balança o ventre;
ensaia a dança da deusa-mãe.
Os sonoros sinos
rodeiam seu ventre estreito
como o abraço do amado.
Coleira que envolve o pescoço do cachorro
até deixá-lo sem fôlego;
ventre exausto, sulcos de cãibras,
tatuagem de uma raiva implacável.
Soraya dança no palco
para fugir de si mesma
e arrancar os pregos incrustrados
na carne de sua memória.
III
A memória enjaula o tempo.
IV
«Você quer histórias, moça bonita?
Tenho muitas para contar ... »
A voz do pai se avizinha
no crepúsculo vespertino;
o berço trêmulo,
o ar impregnado de fumaça
de um cordeiro assando
no fogão da cozinha,
o silêncio aterrorizante
da cumplicidade
e Soraya deteve-se em um respiro.
"Diga-me: quais você quer?"
O riso entre os dentes, os dentes
entre as coxas; a pontada de nojo.
Na fenda que leva à alma
o selvagem crava sua língua de fumo
e espuma na garganta do anjo,
impede seu pranto e uivo
de terror. Um salto brusco
um tétrico grunhido:
crosta que cobre a morte em vida,
ferida sangrando
"Assim foi. A bela jovem
de pele branca e olhos negros,
preencheu os desejos reais… ».
Você escuta, próximo,
o aterrador silêncio da cumplicidade.
V
Soraya vende seu corpo, compra
alegria. Venda alegria, compra.
Eu esqueço. Exorcizar o presente
cravando-se na cruz da luxúria,
mártir do prazer e da tontura.
Erotismo fantasma a habita
e a afasta, semente catapulta
que a trouxe a este mundo.
Tradução: Claudio Daniel
(da Viaggio del sangue, CAPIRE Edizioni, 2020)
LE COLTIVAZIONI
(frammenti)
I tuoi riccioli dorati
sembrano spighe di riso
in un vortice di vento
così soffia lo spirito
inavvertito rimescola
le mie certezze.
Dicono che l’anima si trovi
in un punto della mente.
Chissà dov’è quel terzo divino
che fende la scorza indurita.
La mietitrice avanza in linea retta
aprendo solchi nei campi di Las Mojarras
sollevando le teste calate delle spighe.
OS CULTIVOS
(fragmentos)
Seus cachos dourados
são como espigas de arroz
em um redemoinho
onde o espírito sopra
distraído
mesclando minhas certezas
Dizem que a alma está
em um ponto da mente.
Onde está o terço divino
que corta a crosta endurecida?
a ceifeira avança em linha reta
fazendo sulcos nos campos de Las Mojarras
erguendo todas as espigas
*
L’evoluzione di ogni uomo
come quella dell’universo
è un’espansione. Da un punto
a spire sale o scende
rivoluzione dopo rivoluzione.
Lui afferma che in seguito
c’è il buco nero
il vuoto
il buio eterno.
Lo dimostra la scienza
è il ciclo naturale della vita
nascere crescere morire.
Dice che la speranza è hic et nunc
non esiste la buona novella
carpe diem.
La mietitrice continua a decapitare
i campi in linea retta.
A evolução de cada homem
como a do universo
é uma expansão. De um ponto
a espiral sobe ou desce
revolução após revolução.
Ele afirma que mais tarde
lá está o buraco negro
o vazio
a escuridão eterna.
A ciência prova isso
é o ciclo natural da vida
nascer crescer morrer.
Ele diz que a esperança é hic et nunc
sem boas novas
carpe diem
A ceifeira continua a decapitar
os campos em linha reta.
IL GRANO
(frammento)
Aspetto la festa
della Santissima Trinità
nella distesa arata
seduta su un cuscino di rugiada
i tordi cantano le lodi
sui Tamarindi che costeggiano il campo
vicino al fiume
si alzano voci roche
ibis
anatre
tuo padre che spiega la riproduzione sessuata delle piante
la fusione
di due gameti in uno zigote.
Un impenetrabile mistero d’amore.
Spunta il sole
e in un attimo è luce piena:
l’uno si fece due
una dualità feconda
la procreazione svela
la smania di tornare a essere uno.
O TRIGO
(fragmento)
Espero a festa
da Santíssima Trindade
no campo arado
sentado em uma almofada de orvalho
os tordos cantam louvores
nos tamarindos que alinham o campo
perto do rio
vozes roucas sobem
íbis
patos
seu pai explicando a reprodução sexual de plantas
a fusão
de dois gametas em um zigoto.
Um mistério impenetrável de amor.
O sol nasce
e em um instante é luz total:
um se tornou dois
uma dualidade fecunda
procriação revela
o desejo de ser um novamente.
Traduções: Claudio Daniel e Scheila Sodré
Zingonia Zingone (1971) é poeta, contadora de histórias e tradutora italiana. Formada em Economia, escreve em espanhol, italiano, francês e inglês. A autora mora entre a Itália e a Costa Rica. Possui coletâneas de poemas publicados na Espanha, México, Costa Rica, Itália, Índia, França, Nicarágua e Colômbia. Seus títulos mais recentes são Los naufragios del desierto (Vaso Roto, 2013), Petit Cahier du Grand Mirage (Éditions de la Margeride, 2016), Las tentaciones de la Luz (Anamá Ediciones, 2018) e El canto de la Sulamita – Poesía Reunida, (Uniediciones, 2019). Entre suas obras de tradução, destacam-se as mais recentes coleções de poesia do nicaraguense Claribel Alegría: Voci (Samuele Editore, 2015), premiado internacionalmente com o prêmio Camaiore 2016, e Amore senza fine (Edizioni Fili d’Aquilone, 2018) Ela é consultora editorial da revista literária mexicana El golem (www.revistaelgolem.com).
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