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Foto do escritorREVISTA ZUNÁI

Uma conversa com Abreu Paxe

Atualizado: 29 de dez. de 2021





Zunái: Você cresceu num país que viveu intensos conflitos nas últimas três décadas, como a luta pela emancipação de Portugal, a guerra civil e os esforços para a reconstrução nacional. Como estes fatos marcaram a sua vida e a sua poesia?

Paxe: A minha poesia dialoga, como bem indicou, com estes momentos do nosso mais recente passado sócio-histórico, embora de forma perversa, na qual privilegio a informação estética. Traduz a minha condição de ser, um ser confuso, incompleto sempre pronto a ser forjado, moldado, formado e transformado.

O meu país também ostenta este rosto. Ele cria o primeiro rosto fundado no Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (MNIA) sob a bandeira "Vamos Descobrir Angola", uma frente cultural que se criou no domínio da literatura e da guerrilha, ligados pelo mesmo denominador, que é o sentimento nacional, para combater o colonialismo, um mal que se implantou entre nós, cuja finalidade era a de destruir o outro despojando-o de todos os seus valores culturais e não só privilegiando os do sistema colonial. De seguida, cria o segundo rosto no qual o País experimenta à época pós-independência: neste período, abraça a orientação política do comunismo, anulando as preocupações coloniais sob a forma superior de organização social que refletia a nova situação. É neste período que a guerra civil ganha força e expressão. Por fim, cria o rosto do multipartidarismo, fundado num princípio de unidade nacional, período em que cessa a guerra civil, unindo esforços para a reconstrução nacional, no qual nos submetemos aos novos desafios em busca de um bem-estar para todos.

Conjugam-se em mim estes três rostos: o primeiro, não tinha eu ainda nascido. O segundo, quando criança e adolescente vivendo o drama da guerra, da fome e da miséria: terríveis anos, até a nível de escolarização, razão pela qual a minha família troca o interior (Uíje), minha terra natal, por Luanda. O terceiro, já como adulto que é este ser em que me vou transformando.

Como se pode bem compreender, neste período ainda estávamos confinados a zonas onde produzimos e ganhamos o pouco, embora comungue com o ditado húngaro que diz: "todo o bocado acrescenta, diz o rato e vai fazer xixi no mar"; ou seja, a minha poesia está revestida de simbologia que permite a compreensão de épocas passadas, alarga a sua voz e espalha-a no culto das cerimônias atuais dirigidas à magia da vida, lugares ainda por conhecer, verdadeiras zonas cinzentas, legitimando cavernas, muitas vezes, não só de difícil acesso na resolução dos nossos conflitos e desafios, assim como de fácil acesso ao fazer-nos recordar os ciclos de ossos num estranho apodrecer, de que felizmente, já só vão ficando sequelas que vamos tentando esquecer.

Zunái: Como foi a sua formação literária? Quais foram os autores que chamaram a sua atenção para o fazer poético? Por que você escolheu ser poeta?

Paxe: Minha formação literária... será que a tenho? É curioso, em Angola, a produção literária supera em anos-luz o ensino da literatura, ou seja, produzem-se mais livros do que leitores, em proporções abismais. O ensino da literatura ainda se constitui na nossa zona do sahel, ainda é a nzaya almejada. Para o meu caso, mais concretamente, toda a minha formação acadêmica, do básico à licenciatura, realizou-se cá. Felizmente, "nos áureos anos de 1978/79", o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD), das várias e riquíssimas coleções que possuía constava a da literatura para crianças. Meu pai, então motorista da Delegação Provincial da Educação, sempre que viesse para Luanda tinha o cuidado de comprar para nós estes livros. Por isso fomo-nos forjando, embora de forma, arrojada como leitores uma demarche autodidata, pouco ou nada recebendo da escola oficial.

Posto cá em Luanda, nos finais da década de oitenta, ao ler poetas como Costa Andrade, António Jacinto, Roberto de Almeida, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Jorge Macedo, Manuel Rui, Henrique Guerra... fui ganhando o gosto pela poesia e fui compreendendo a nossa condição como povo. A essa leitura segue-se a dos poetas que mais se destacaram nas décadas de 70 e 80, nas brigadas e não só. Lia-os todos. Mesmo sem os entender, gostava da forma como propunham aquelas peças poéticas que não entendia, mesmo assim gostava de os ler. Foram os casos de João Maimona, Lopito Feijoó, Rui Augusto, Conceição Cristóvão, José Luís Mendonça, David Mestre, Arlindo Barbeitos e Ruy Duarte de Carvalho... Só começo a ter contato com poetas contemporâneos estrangeiros, em meados da década de noventa, através de João Maimona, que também me põe em contacto com a revista Dimensão (de Guido Bilharinho, do Triângulo Mineiro), intelectual brasileiro que prezo muito que me passou a enviar a referida revista com regularidade até o seu último número. Esta fase foi muito importante para a minha produção poética. É através dessa revista que conheço poetas importantíssimos do panorama da poesia mundial, um conhecimento que se vai alargando cada vez mais. E agora, claro, em contato consigo que se constituiu para mim num verdadeiro poço de descobertas.

Escolhi a condição de ser poeta, por ser, um ser confuso, incompleto, sempre pronto a ser forjado, moldado, formado e transformado. Sinto que nesta condição acomodo-me no triângulo ritualístico, no processo de transmigração.

Zunái: Como foi o início de sua carreira poética? Publicou em revistas? Participou da Brigada Jovem de Literatura?

Paxe: A minha careira poética inicia-se com a publicação, no não distante ano de 1999, de quatro peças poéticas na página cultural do Jornal de Angola, poemas publicados no ano seguinte (2000) na revista Dimensão. Nunca participei das atividades da Brigada Jovem de Literatura (BJL).

Zunái: A Chave no Repouso da Porta, que você publicou em 2003, revela uma linguagem densa, concentrada e fortemente imagética. Qual foi a repercussão desse livro nos meios literários de seu país?

Paxe: Causou muito estranhamento e é preocupante a reação de muitos que acusam ainda muita desinformação em relação à poesia, depois de alguns comentários que fui ouvindo, mesmo sabendo que o livro tinha resultado dum concurso, confesso que comecei a acusar uma certa insegurança. Aproveito aqui para referir, em forma de agradecimento, o nome de Jomo Fortunato que, para além de ser meu amigo, é um dos poucos leitores que confirmou a força que o livro tinha; incluo, também outras personalidades: o já falecido professor doutor Augusto Kambwa, a quem coube a tarefa de apresentar o livro; do júri, os poetas João Maimona, Jorge Macedo, Adriano Botelho de Vasconcelos, Claudio Daniel, Guido Bilharinho, Gabriel Magalhães, a professora Carmen Secco, entre outros, que perceberam o sentido, no qual se move minha poesia. Perceberam, como dizia E. M. de Melo e Castro, que a poesia está sempre no limite das coisas. No limite do que pode ser dito, do que pode ser escrito, do que pode ser feito, do que pode ser visto e até pensado, sentido e compreendido. Estar no limite, ainda dizia, significa muitas vezes, para o [poeta/leitor], estar para lá do que estamos preparados para aceitar como possível. Postura contrária tiveram os que se constituíram em críticos literários, desferindo duros golpes à minha pessoa e aos que têm escrito mais ou menos na senda do que tenho estado a fazer, mesmo sendo anteriores a mim, chegando a dizer que o mesmo livro em nada contribuía para a literatura e que vinha destruir os propósitos da poesia, e que tinha uma linguagem muito difícil de entender e que eu não percebia nada do que fazia... Como se a poesia obedecesse a regulamentos, a decretos ou normas pré-estabelecidas. Mas eu percebo a razão de muitos terem reagido assim: em primeiro lugar, é para perpetuar uma perspectiva da uniformidade inquestionável, do discurso dos poetas que mais se destacam no nosso passado recente, cultivando o culto do facilitarismo com vestimentas conservadoras; e por outro, é pelo fato de terem dificuldades em se integrarem nos novos desafios da poesia, pensando que para isto estariam a anunciar a sua não sobrevivência, o seu desaparecimento, ou a sua morte, acusando, claro, os diversos limites com que um leitor/poeta se pode confrontar: os sociais, os políticos, os religiosos, os ideológicos, os preconceituosos, os psicológicos, os morais, os retóricos, os estéticos, os linguísticos... Dá para perceber como têm sido a repercussão de A Chave no Repousa da Porta nos nossos meios literários?



Zunái: Ao contrário da dicção mais discursiva, retórica, de conteúdo político direto, que esteve em evidência nos anos 60 e 70, tua poesia parece mover-se em outro sentido, buscando uma reinvenção da sintaxe e a força mântrica das palavras. A linguagem poética, a seu ver, é uma leitura crítica da realidade ou a criação de uma outra realidade?

Paxe: Penso que a poesia, como ato de criação, para mim não deve de forma objetiva nomear as coisas tal qual como elas acontecem no cosmos, tal como se movem, tal como o cosmos as regula, vistas, à vista desarmada ou macroscopicamente. A poesia deve constituir-se no mundo alternativo, este funcionando como mundo não codificado ou convencionado numa visão globalizante, senão como codificação singular do criador e do leitor. Ao serviço da arte, a poesia deve-se construir com certa erudição, ou seja, a partir do que já existe, do que já foi proposto nos matizes artísticos. A poesia deve convidar-nos a mergulhar no escuro, como dizia Gastão Cruz, não para o iluminar, mas para aprender a conhecê-lo, evocando todos os sentidos. Como se pode ver, para mim a linguagem poética é a criação de uma outra realidade, fundada numa realidade, ou seja, a recriação da realidade observável.

Zunái: O seu olhar está voltado para as mínimas coisas do cotidiano, que não é retratado de modo ingênuo, fotográfico, mas antes é fragmentado em cenas rápidas, como num videoclipe. Esta reconstrução das imagens pela palavra poética tem uma influência das mídias eletrônicas?

Paxe: De certo modo, sim. Persigo, neste exercício, a capacidade de recomposição e síntese, transformando meu olhar em unidades de análise, uma qualidade que impregna todas as criações resultantes de um processo interativo entre o homem e os meios eletrônicos em que a metamorfose e o virtual se projetam na mente humana como agentes da própria instabilidade e plasticidade, como agentes da invenção e da percepção, levando a poesia para além dos limites, numa viagem expansiva para o lugar inabitado, originando imagens simultâneas e diversas capazes de modificar os sentidos (ordenados) num elevado grau de fragmentação. Estes fragmentos, estes paradoxos, que vez ou outra nomeio, buscam anular a linearidade, a luminosidade, o detalhe. Mesmo quando experimento as vestimentas narrativas, sinto que só participo alegremente de uma festa que legitima os estímulos que nos cercam, nas atualizações materiais onde é preciso abrir os olhos e a mente de um modo diferente.

Zunái: Como é o ambiente literário em Angola? Quais são as principais revistas e jornais literários? É muito difícil para um autor jovem publicar o seu primeiro livro? Existem concursos ou bolsas de criação? Qual é a situação da crítica literária?

Paxe: O nosso ambiente literário nos dias que correm pinta-se nos cenários das cerimônias de lançamentos de livros, nas feiras de livros do INALD, ou nas cerimônias que a União dos Escritores Angolanos (UEA), a Associação Chá de Caxinde, a Editora Nzila, a Kilombelombe e outros organismos vão promovendo em torno do Livro, da Leitura e da promoção da nossa literatura. Perdeu-se aquele entusiasmo que perseguia o escritor nas décadas de oitenta com tertúlias, debates - hoje estas práticas para além de serem escassas são muito irregulares -, foi neste ambiente que surgiram as makas à quarta-feira (ciclos de palestras e debates à volta de um tema da atualidade, realizado pela UEA), evento mais concorrido pelos escritores, podemos falar também do manifesto Ohandanji, de Lopito Feijóo, Luís Kandjimbo, António Panguila, entre outros; o Movimento Cultural "os Kiximbulas" de E. Bonavena, de António Azzevas e tantos outros; as revista literárias como Lavra e Oficina, da UEA, a Archote, Aspiração, da BJL, e do Suplemento Cultural do Jornal de Angola, com a designação na altura de "Vida & Cultura" e agora, há cerca de quatro anos mais ou menos, com a designação de "Vida Cultural". Este suplemento sai aos domingos, o único que até hoje subsiste.

Como o produto literário que os jovens aspirantes a escritores apresentam é invariavelmente despido de grande informação estética, este elemento, às vezes, constitui-se num grande handicap para a publicação das suas obras, embora muitos deles estejam ligados à brigada e a outros núcleos literários. Em suma, estes jovens com discursos mais ou menos requintados, às vezes nem tanto, são revelados através de concursos literários, poucos mais existem, e através das editoras.

Não tenho conhecimento oficial da existência de bolsas que criação. Sei que existem escritores angolanos que têm se beneficiado, não sei quais são os critérios adotados.

A situação da crítica em Angola é sofrível devido a escassez de críticos que funcionam como verdadeiras gotas para que o terreno não seque, vamos lá ver se volta a ter o mesmo rosto que ela tinha antes: os escritores como Manuel Rui, Costa Andrade, Jorge Macedo, Rui Duarte de Carvalho, David Mestre, E. Bonavena. ajuda(ra)m na arrumação das novas peças literárias da nossa literatura, através da crítica, para além da que é feita nos círculos académicos, e não só, no exterior.

Zunái: Nos anos 80 e 90, surgiu uma nova geração de poetas angolanos (João Maimona, Lopito Feijoó, Frederico Ningi, entre outros) voltados à experimentação de linguagem. Qual foi a reação da crítica literária e dos meios acadêmicos a essa poesia nova? Houve resistência ou aceitação?

Paxe: Posso dizer que houve aceitação por um lado e resistência por outro, como é natural. Estes jovens quando se iniciaram na literatura não deixaram de receber aconselhamento dos mais velhos, os mais velhos que comungam com eles os mesmos pontos de vista na elaboração de uma poesia deslocada da engajada, a poesia prenhe de desafios. Os poetas como José Luís Mendonça e João Maimona que se revelam através de concurso literário em 1981 e 1983, respectivamente, e Lopito Feijoó, fazem parte do primeiro elenco de jovens que foram admitidos, nos momentos a que se segue a dos fundadores, como membros da UEA. João Maimona, com uma produção poética abundante, já com nove títulos, foi considerado pelo crítico literário espanhol Xosé Lois Garcia como o precursor do pós-modernismo da poesia em Angola; os seus trabalhos granjearam grandes simpatias por parte da crítica literária. A sua poesia busca incessantemente o lugar estético da beleza, reabilitando a memória dos sentidos em diálogo com as cicatrizes. Pode-se dizer o mesmo de Lopito Feijoó, embora com uma produção poética que considero escassa em termos de publicação, também figura nos lugares cimeiros; a sua poesia tem pontos de contacto com a poesia de Rui Duarte de Carvalho, Arlindo Barbeitos, na pesquisa antropológica, e David Mestre, na experimentação da linguagem. Em suma, seus discursos, iconoclasticamente, romperam com os cânones estéticos recorrendo a metáforas, buscando a renovação plásticas das palavras no contexto africano. Frederico Ningi, revela-se na década de 90, é um poeta denso que também se vai acomodando, da melhor forma possível, à nossa poesia, onde se afirma como poeta iconoclasta com uma poética tecida por palavras, imagens e símbolos gráficos, fundados em bases imagéticas surreais.

Os meios académicos em Angola têm na crítica um papel passivo. Embora reconheçamos os trabalhos do professor Eduardo Augusto Kambwa, que consideraríamos também como pingo necessário para que o terreno não secasse, a crítica, como acima apontei, é feita pelos próprios escritores através de jornais e revistas literárias, fora dos círculos académicos.

O ensino da LA só agora há cerca de quatro anos conheceu a sua autonomia. Como se pode ver, ainda estão por criar as condições para uma crítica acadêmica.

Zunái: Qual é a sua opinião sobre a poesia angolana contemporânea?

Paxe: A poesia angolana contemporânea, penso, está à procura de seu rosto. Precisa de o ajustar, com certeza. Depois da década de setenta, as que se seguiram tornaram-se mais dinâmicas e reagem às transformações socioculturais. Ela constrói-se e vai ajustando-se na investigação antropológica (autóctone) - com sentidos estéticos virados para a inteligência, para a vontade e para a razão africana - e na experiência alienígena, propondo-nos formas novas mais adequadas ao conteúdo da nova linguagem poética, no qual a transgressão, eroticidade, a errância, os desafios, a metalinguagem, a desconstrução (Secco) constituem-se em alguns dos seus mais importantes vectores. Estes poetas não rejeitaram os valores da literatura universal; incansáveis vão procurando em seus versos uma síntese das formas tradicionais da oralidade africana e dos valores artísticos da cultura do mundo inteiro, tecem mediante a confrontação da ansiedade, do desespero e esperança da noite e do dia que se entrechocam na sua unidade, heterogenia, de diversidade discursiva. Esta reflecte toda a poesia unida no interesse comum pelas experiências literárias, pelos problemas de criação poética. Nomeamos, a propósito nessa contemporaneidade, sem desprimor dos anteriores, poetas como Rui Duarte de Carvalho, Arlindo Barbeitos, Jorge Macedo, David Mestre, João Maimona, João Melo, José Luís Mendonça, Paula Tavares, Jorge Arrimar, Ana de Santana, Lopito Feijoó, Rui Augusto, Adriano Botelho de Vasconcelos, Frederico Ningi, Maria Amélia Dalomba, Maria Alexandre Dáskalos, Conceição Cristóvão, João Tala, Fernando Kafukeno, António Panguila, António Pompílio, Jonh Bella, entre outros. Nestes poetas, assentam as condições do desenvolvimento da poesia angolana: o estilo hermético, o sentido oculto, a multiplicidade e a policromia de imagens constroem os seus traços simbólicos e culturais, não só no campo das ideias e da temática, mas também no domínio da forma, em suma reconhece-se nestes poetas grande diversidades de técnicas artísticas, a preocupação pelo domínio da forma e uma busca de novidade, ou seja, a recorrência à criação de novas palavras. Nestes poetas, pode-se reconhecer os processos de desintegração, ligados ao fortalecimento da autenticidade nacional. Aqui cria-se um bom legado para as novas gerações.

Zunái: Você já colaborou em revistas literárias brasileiras, como a Dimensão e Et Cetera. O que você conhece da poesia que é desenvolvida no Brasil hoje?

Paxe: A poesia brasileira, sem sombra de dúvida, tem muitos pontos de contato com a poesia angolana contemporânea - talvez por isso mesmo os críticos estrangeiros que mais a abordam, e mais profundamente, penso, sejam os brasileiros, acredito que isso poderá ajudar muito no seu desenvolvimento, fato também reforçado pelos nossos laços sócio-históricos.

O pouco que conheço da poesia brasileira desenvolvida hoje leva-me a afirmar que ela já dialoga com o "Extremo Contemporâneo" conceito inventado por Michel Chaillou em 1987, a poesia da invenção, assumindo como marca do contemporâneo na sua extremidade e daí reivindicando como uma realidade. Confrontam-se a negação da ideia de vanguarda e a (re)afirmação de pesquisa estética (Daniel), cultivando uma poesia libertada da tirania das ideologias e das utopias de vária ordem. Uma poesia que não hesita em expor-se, com as suas esperanças e mitos, as suas dúvidas, as suas certezas e o seu desencanto, ao risco do seu desaparecimento. Sem que com isso se venha acreditar que se esteja a perder o sentido de poesia (Aricy Curvello); o que ocorre de tempos em tempos são mudanças de estilo e de cultura, pois é ponto pacífico que cada época tem a sua própria poesia. Nestas duas revistas que julgo importantíssimas para a divulgação do material novo que se vem publicando no universo literário brasileiro, e não só, pode-se sentir o peso de poetas como João Cabral de Melo Neto, Paulo Leminski, Wilson Bueno... para não me perder em citações, estas duas revistas que citou e as antologias como Jardim de Camaleões, A fenda, Na Virada do Século - poesia de invenção no Brasil, a revista eletrônica Zunái, entre outras, ilustram bem os que se afirmam na poesia que é hoje produzida no Brasil.

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