Niloy Rafiq
MINHA HERANÇA
poema de Niloy Rafiq/Bangladesh
Sentado num escritório tedioso, vento sul,
diante de um entalhe em madeira
desenhado artisticamente, o casco de um barco
brilha intenso ao sol numa textura permanente.
No sangue, a herança dos operários da palavra,
contemplo, no cais, a artesania - fragrância do pai -
o culto criativo da obra “Joyailla”
sobre os telhados de Boishakh, um matiz poético.
A magia da obra imaginada é bucólica,
evoca a meditação silenciosa,
eis o mistério da realização,
minha herança é a arte da carpintaria.
Nota: Joyailla = assistente de carpintaria; Boishakh = vilarejo em Bangladesh.
আমার ঐতিহ্য
অলস দপ্তরে বসে,দখিনা বাতাস
সামনে আগুনশিখা কাঠের সেলাই
শৈল্পিক মননে আঁকা,বোটের শরীর
রৌদ্রেঘামে চকচকে অম্লান সুরত।
শব্দশ্রমিকের রক্তে উত্তরাধিকার
ডকে দেখি কারুকাজ,পিতার সৌরভ
সৃষ্টির আরাধনায় জোয়াইল্যা কাজে
বৈশাখে দুপুরে ছাদে কবিতার স্বর।
চিত্রকল্পে শিল্পজাদু অমিয় গ্রামীণ
নিভৃতে শেকড়ে টানে পরিযায়ী ধ্যান
আদিশৈলী ইতিহাসে বোধের রহস্য
কাঠমিস্ত্রি কর্মচারু আমার ঐতিহ্য।
টীকাঃডক=যেখানে নৌকা মেরামত করা হয়।
জোয়াইল্যা=রাজমিস্ত্রি বা কাঠমিস্ত্রির সহযোগী।
Shamayita Sen
BANGLA
poema de Shamayita Sen/Calcutá-Índia
Um colega
de um antigo local de trabalho,
uma vez me disse:
"Eu invejo seu amor pela sua língua materna."
Deixei minha cidade natal
há uma década, como se diz uma migrante econômica,
buscando esperança em outro lugar.
Bengala Ocidental é um sonho do passado;
e Bangla - minha língua, é a doçura e o calor
do mel misturado em uma xícara matinal
de suco de limão agridoce.
Muitas vezes sou atraída pelo urdu,
uma língua tão viajada quanto um monge fatigado,
coletor de histórias em campos de batalha.
E, no entanto, em meio a uma onda de hormônios,
ou apesar da raiva, o mel
muda de consistência e se derrama pelos
meus dentes em poças de sangue e bile.
Bangla me resgata dos
muitos momentos de luto,
sendo a língua mais do que apenas palavras e pessoas.
É uma ânfora, um passado cozido em
práticas culturais regulares,
onde devo carregar minhas cinzas.
BANGLA
A colleague
from a previous work-place,
once told me:
I envy your love for your mother tongue.
I left my home-town
a decade back, an economic migrant,
searching hope elsewhere.
West Bengal is a yesteryear dream;
and Bangla, the sweetness and warmth
of honey mixed in a morning cup of
bitter-sour lemon juice.
I am often drawn towards Urdu,
a language as travelled as a tired monk
collecting stories from battlefields.
And yet, amidst a rush of hormone,
or in spite and rage, the honey
changes consistency and spills through
my teeth into pools of blood and bile.
Bangla rescues me from
the many moments of grief, the language
being more than just words and people.
It is a pot, a past woven in
regular cultural practices,
that I must bear my ashes in.
Ramprasad Sen
A PIPA
poema de Ramprasad Sen/Bengala Ocidental-Índia
Na movimentada praça do mercado,
Tu empinas pipas, ó Shyama.
Elas voam alto no vento da esperança,
Presas pelos fios de Maya com firmeza.
Suas varetas são ossos humanos,
Suas velas, compostas dos três gunas.
Mas toda a sua curiosa constituição
É um ornamento – tão somente.
Sobre os fios das pipas, tu untaste
Com o cerol do mundanismo,
Para torná-los ainda mais fortes
E afiados e cortantes.
De cem mil pipas, no melhor dos casos,
Uma ou duas se libertarão;
E tu rirás e baterás palmas, ó Mãe,
Contemplando-as!
Em ventos favoráveis, assim diz Ramprasad,
As pipas soltas irão, céleres,
Atravessar o oceano deste mundo.
E, longe, longe, serem levadas ao Infinito.
Nota: Shyama Kali é o aspecto mais terno de Kali. Ela é adorada em muitos lares como a dispensadora de bênçãos e dissipadora do medo.
O SHYAMA
In the world's busy market-place, O Shyama,
Thou art flying kites;
High up they soar on the wind of hope,
held fast by maya's string.
Their frames are human skeletons,
their sails of the the three gunas made;
But all their curious workmanship
is merely for ornament.
Upon the kite-strings Thou hast rubbed
the manja-paste of worldliness,
So as to make each straining strand
all the more sharp and strong.
Out of a hundred thousand kites,
at best but one or two break free;
And thou dost laugh and clap Thy hands,
O Mother, watching them!
On favoring winds, says Ramprasad,
the kites set loose will speedily
Be borne away to the Infinite,
across the sea of the world.
Niloy Rafiq- é um jovem poeta que nasceu e vive em Cox's Bazar, Bangladesh. Niloy já publicou sete livros de poemas em língua bengali, além de ter sido amplamente traduzido em outras línguas e publicados em revistas digitais internacionais. Livros publicados: Bishoddha Bishadey Bhashi Aami Raajhnash (I am the swan floating in the pure air) 2014; Pipasar Paramayu (Eternity of thirst) 2016; Nona Manusher Mukh (Salty human face) 2017; Aggato Agun (Unknown fire)-2019; Ankhi Anka Aadinath (Aadinath in eyes) 2021; Momer Prarthonay Noto Matir Shorir (Earthen body bended, worshipping candel) 2023; Rud Pata (Sun Leaf) 2023.
Shamayita Sen - poeta nascida em 4 de outubro de 1989, em Calcutá/Bengala Ocidental/Índia, é uma pesquisadora de doutorado no Departamento de Inglês da Universidade de Delhi. Ela escreve temas sobre identidade e corpo. Tem publicados seus poemas em diversas revistas digitais na Índia e no exterior, e publicou recentemente o livro My Body is Not a Vessel (Hawakal 2022).
Rāmprasād Sen - foi um santo e poeta místico hindu que viveu em bengala ocidental entre os anos de 1718 a 1775. Seus poemas bhaktis (poemas devocionais) são amplamente conhecidos e ainda populares em Bengala - ele foi profundamente admirado por Rabindranath Tagore, quem o apresentou ao público ocidental. Os poemas de Ramprasad tratam da vida em geral e muitas vezes incluem lendas e mitos misturados com detalhes biográficos.
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