Retrato de Percy Bysshe Shelley por Joseph Severn
A MÁSCARA DA ANARQUIA
1.
Quando eu dormia na Itália
veio uma voz do Mar que fala,
e com grande poder adiante me vale a,
na visão da Poesia, acompanhá-la.
2.
O Assassínio na rua encontrei –
tinha a máscara de Castlereagh –
parecia tranquilo, mas sombrio;
sete cães de caça o seguiam:
3.
tão gordos; e tão bem estão
nesta admirável situação,
pois um a um, e dois a dois,
dá-lhes nossos corações pra comer depois
que de sua vasta capa os depôs.
4.
Logo veio o Engano, que tinha o
traje, como Eldon, de arminho;
suas lagrimonas, pois bem carpia, faziam-
-se pedra de mó quando caíam.
5.
E as criancinhas, que em volta
o pé pra lá e pra cá botam,
crendo joia cada lágrima reles,
tiveram os cérebros nocauteados por eles.
6.
Vestida com a Bíblia e com a
luz, e as noturnas sombras,
como Sidmouth, logo, a Hipocrisia
montando um crocodilo ia.
7.
E muito mais Destruições à vista
nessa mascarada sinistra,
até os olhos, disfarçados,
como bispos, nobres, espias, advogados.
8.
Por fim veio a Anarquia: montando
cavalo branco, sangue respingando;
pálida até os lábios se lhe visse,
como a Morte no Apocalipse.
9.
E uma coroa real trazia;
e a seu alcance um cetro luzia;
em sua testa esta marca enxerguei –
‘SOU DEUS, REI, E A LEI!”
10.
Num passo de altivez e destreza,
passou sobre terras inglesas,
calcando e em sangue atolando
a multidão se espantando.
11.
Em torno potente tropa vem, e
em sua marcha o chão treme,
espadas sangrentas sacodem,
a serviço de seu Lorde.
12.
E com triunfo glorioso, seguem
pela Inglaterra orgulhosos e alegres,
bêbados como em intoxicação
do vinho da desolação.
13.
Sobre campos e cidades, de mar a mar,
o Cortejo livre e ligeiro a passar,
rasga acima, e calca abaixo; onde
enfim chegam em Londres.
14.
E cada cidadão, em pânico,
sentia o terror no coração entrando
e o choro tempestuoso ouvia
do triunfo da Anarquia.
15.
Pois com pompa a vê-la vieram logo,
com armas como sangue e fogo,
assassinos de aluguel, entoando seus
‘És Rei, e Lei, e Deus.
16.
‘Temos esperado, sós e ansiosos,
por vossa vinda, Poderosos!
Nossas espadas frias, vazios os bolsos,
dai-nos glória, e sangue, e ouro.’
17.
Juristas e pastores, massa turva,
a fronte pálida à terra curva;
como má oração não tão alta,
‘– Tu és Lei e Deus –’ exaltam.
18.
Daí foi uníssono o clamor,
‘És Rei, e Deus, e Senhor;
Anarquia, a gente te adora,
seja teu nome santificado agora!’
19.
E Anarquia, o Esqueleto,
curvou-se e riu-lhes a contento,
bem como se sua educação
custasse dez milhões à nação.
20.
Pois sabia que os Palácios
dos Reis eram seus de fato;
seu cetro, coroa e globo,
e o manto tecido de ouro.
21.
Aí enviou seus escravos à frente
que o Banco e a Torre apreendem,
e estava procedendo no intento
de achar seu pensionista Parlamento.
22.
Quando uma fugiu, maníaca donzela,
e seu nome era Esperança, disse ela:
mas parecia mais Desespero,
e ao ar lançou tal berreiro:
23.
‘Meu pai Tempo é grisalho e fraco,
de melhores dias no aguardo;
veja como idiota ele para,
com as mãos paralisadas se atrapalha!
24.
‘Ele tem tido filho após filha,
e na poeira da morte empilha
cada um salvo eu só –
Miséria, Miséria, oh!’
25.
Então ela se deitou na rua,
ante as patas dos cavalos se punha,
expectante, e com olhar paciente via
Assassínio, Fraude e Anarquia.
26.
Quando entre ela e os inimigos seus
uma névoa, luz, imagem se ergueu,
pequena de início, e fraca, frágil e
tal como o vapor de um vale:
27.
até que as nuvens explodem crescendo,
gigantes coroados de torres correndo,
e luzem com raios quando voam,
e trovão sua fala ao céu reboa,
28.
já Forma encouraçada – crescente,
mais brilhante que a escama da serpente,
se elevava em asas com textura
como a luz de ensolarada chuva.
29.
Em seu elmo, se ao longe se avistava,
um planeta, tal a estrela d’alva;
e essas plumas verteram sua luz enfim
qual chuva de orvalho carmesim.
30.
Passou suave como o vento passa indo
pelas cabeças dos homens – tão rápido
que de sua presença ali sabiam,
e viam, – mas tudo era ar vazio.
31.
Como flores ao andar de maio acordem,
como estrelas do cabelo solto da Noite se sacodem,
como ondas se erguem quando ventos fortes sopram,
Ideias de cada pegada sua brotam.
32.
E a multidão prostrada a vê-los
– e com sangue nos tornozelos,
Esperança, a donzela mais serena,
caminhava com atitude amena:
33.
e Anarquia, a origem hórrida,
sobre a terra jazia terra morta;
o Cavalo da Morte sem controle voa
qual vento, e com os cascos mói à
poeira os assassinos que atrás amontoa.
34.
Luz de nuvem e esplendor que afeta, um
sentido que desperta e ainda é afeto
foi ouvido e sentido – e no seu termo
surgiram tais termos de alegria e medo
35.
como se sua própria indignada Terra
que deu à luz os filhos da Inglaterra
sentisse o sangue deles em suas cãs, e
estremecendo com as dores de ser mãe
36.
toda gota de sangue tivesse a alterá-la,
a qual sua própria face já orvalha,
em um sotaque irresistido,–
como se seu coração desse um grito:
37.
‘Ingleses, herdeiros da Glória,
heróis de não escrita história,
lactentes de uma Mãe potente,
Esperanças dela, e de seus entes;
38.
‘Ergam-se como Leões após a soneca
em número que não se vença,
lancem suas algemas à terra como o orvalho
que no sono sobre vocês derrubaram –
vocês são muitos – eles parcos.
39.
‘Que é Liberdade? – a vocês cabe
dizer o que é escravidão, bem sabem –
pois esse próprio nome cresceu
virando um eco dos seus.
40.
‘É trabalhar e ter paga para
manter só a vida diária
em seus membros, como uma cela
a tiranos fazerem uso dela,
41.
‘vocês lhes são apenas as
espadas, e teares, e arados, e pás,
com ou sem seu próprio arbítrio reles
só pra defesa e sustento deles.
42.
‘É ver seus filhos mirrando
com suas mães definhando, quando
ventos frios de inverno estão soprando,–
Tão morrendo enquanto estou contando.
43.
‘É ter fome por alimento
enquanto o rico em esbanjamento
atira aos cães gordos deitados
sob sua vista fartos;
44.
‘é deixar o Fantasma do Ouro a
levar mil vezes mais do Laboro a
substância que tanta jamais tomada fora
nas tiranias de outrora.
45.
‘Papel-moeda – esse fake
de escrituras de bens, e que
vocês tenham algo do valor
que a herança da Terra dispor.
46.
‘É ser escravo n’alma de sorte
a não ter controle forte
sobre o que se quer, mas ser
tudo que quiserem de você.
47.
‘E quando reclamarem então
com um murmúrio fraco e vão
é pra ver a tropa tirana
cavalgar sobre vocês e suas damas
sangue igual orvalho na grama.
48.
‘Então é sentir vingança
fera sedenta por barganha
de sangue por sangue – e engodo a engodo –
Ao serem fortes, não ajam desse modo.
49.
‘Repousam passarinhos, em exíguos ninhos
exaustos de alados caminhos;
bestas se alimentam, se a toca adentram
e há no ar neve e tormenta.
50.
‘Asnos, suínos, porqueira alastram
e comida digna se lhes pastam;
toda coisa tem casa, exceto uma –
tu, oh, inglês, não tem nenhuma!
51.
‘Isso é Escravidão – homens selvagens,
bestas feras em tocas não fazem
suportar como vocês suportam –
mas tais males nunca os tocam.
52.
‘Que és tu Liberdade? Ó! a tal pergunta
pudessem responder escravos de sua tumba
vivente – tiranos fugiriam como
as figuras obscuras do sonho:
53.
‘não és, como impostores falaram,
uma sombra que breve passara,
uma superstição, nome que brama
ecoando da caverna da Fama.
54.
‘Ao trabalhador pão és,
e uma mesa decente eis
que sua labuta diária dá
em limpo e feliz lar.
55.
‘És vestes, calor, e grude
à pisoteada multitude –
não – em terra que livre seja
tal miséria não esteja
como a que a Inglaterra veja.
56.
‘Ao rico és estorvo
quando seu pé está no pescoço
de sua vítima, tu pões sob a
sua pegada uma cobra.
57.
‘Tu és Justiça – a ouro jamais
sejam tuas justas leis vendidas tais
as leis na Inglaterra – igual, tu
proteges o baixo e o alto.
58.
‘És Sensatez – nunca seres Livres
sonharão que Deus lhes privem
por achar tais coisas inverdades
das quais pastores tanto ladrem.
59.
‘Tu és Paz – jamais por ti a
riqueza ou o sangue se desperdiçaria
como tiranos desperdiçam, e se aliam a
extinguir tua chama na Gália.
60.
‘E se suor e sangue inglês fluiu
à toa, mesmo igual dilúvio?
Isto servido, Oh, Liberdade, tem
pra te ofuscar, não te extinguir, porém.
61.
‘Tu és Amor – teus pés o rico
beijou, e como aquele seguindo Cristo,
seus recursos ao livre distribuiu
e pelo mundo-cão te seguiu,
62.
‘ou fez de seu ouro armas, e impusera
guerra por teu bem contra guerra,
e ouro, e fraude – de onde
sacam poder que à presa corresponde.
63.
‘Ciência, Poesia e Pensamento são
tuas lâmpadas; tornam o quinhão
de habitantes de um barracão
sereno; não o amaldiçoam então.
64.
‘Espírito, Paciência, Gentileza,
tudo que abençoa e embeleza
és tu – que em atos, não palavras, vejam-
-se tua extraordinária beleza.
65.
‘Que grande Assembleia se avive
de destemidos e livres
em solo inglês, em algum ponto
que tenha as planícies em torno.
66.
‘Que o céu azul por cima,
a terra verde em que se caminha,
tudo que de eterno exista
tal solenidade assista.
67.
‘Dos mais longínquos nichos
dos pontos ingleses fronteiriços;
de cada barraco, vila ou cidade que tenha
alguém que viva e sofra e gema
pela miséria alheia ou sua mesma,
68.
‘de asilo e prisões que há a ver esses
pálidos tais recém-ressuscitados cadáveres,
mulheres, crianças, velhos e jovens
que gemam de dor, que de frio chorem –
69.
‘de antros da cotidiana labuta
onde se trava a cotidiana luta
com anseios e cuidados comuns que soem o
coração humano semear com joio –
70.
‘enfim de palácios donde sai
o eco do murmúrio de ais,
como som distante ouvido
de um vento em volta vivo
71.
‘desses halls de prisão de luxo e moda,
onde uns poucos sentem dó da
gente que geme, labuta e se lamuria
como seus irmãos empalideceriam –
72.
‘vocês que sofrem aflições não ditas,
ou sentem, ou fitam aflitas
seu país perdido comprado vendido
a preço de sangue e ouro reduzido –
73.
‘façam assembleia ampla
e com solenidade tanta
declarem em palavras medidas que vocês
são livres como Deus os fez –
74.
‘sejam suas fortes e simples palavras
agudas pra ferir igual afiadas espadas,
que vastas como tarjas sejam,
e com sua sombra os protejam.
75.
‘Deixa tiranos saírem vertendo
com um som ligeiro e horrendo,
como de um mar que se solta,
armada brasonaria às tropas.
76.
‘Deixa a artilharia pesada mover-
-se até que o ar morto pareça viver
com o estrondo de rodas troando,
e o casco de cavalos trotando.
77.
‘Deixa brilhar a fixa baioneta
com desejo intenso que umedeça
em sangue inglês sua ponta luzida
aflita como alguém por comida.
78.
‘Deixa rolar e luzir as cimitarras dos
cavaleiros, como astros desesferados
sedentos por eclipsar seu ardor
num mar de morte e dor.
79.
‘Pare a gente calma e resoluta,
como floresta cerrada e muda,
braços cruzados e olhares que são
de guerra não derrotada um canhão,
80.
‘e deixa o Pânico, que ultrapassa o
passo de corcéis armados,
passar; sombra ignorável
por sua falange imperturbável.
81.
‘Deixa que em sua terra há leis,
boas ou más, estão entre vocês
mão a mão, e pé a pé,
árbitros da disputa, pois é,
82.
‘as velhas leis inglesas –
já grisalhas reverendas cabeças,
filhas de tempos de mais sapiência;
e cuja voz solene há de
ser teu próprio eco – Liberdade!
83.
‘Sobre os que primeiro violarem
tais arautos sagrados paire
o sangue que deve acontecer,
e não paire sobre você.
84.
‘E se aí os tiranos se atrevem
a ir entre vocês, deixá-los devem,
rasgar, aleijar, decepar, fender,
o que gostam, deixa-os fazer.
85.
‘Braços cruzados, no olhar firmeza,
e pouco medo, e menos surpresa,
vejam-lhes enquanto assassinam
até que suas fúrias se extingam.
86.
‘Daí voltarão com vergonha
ao lugar que os disponha,
e vai falar o sangue que despejam
no ardor rubor de suas bochechas.
87.
‘Apontar-lhes-ão as mulheres
onde quer que estiverem –
mal ousarão dar à sua
conhecida um oi na rua.
88.
‘E os verdadeiros guerreiros, ariscos
que em guerras abraçaram riscos
virarão aos que queriam ser livres,
com vergonha dos vis com quem convivem.
89.
‘E esse massacre à Nação
vai se condensar como inspiração,
eloquente, oracular;
vulcão distante a troar.
90.
‘E tais termos se tornarão
destruição estrondosa da Opressão
rangendo em cada cérebro e coração,
ouvida de novo – de novo – de novo – então
91.
‘Ergam-se como Leões após a soneca
em número que não se vença –
lancem suas algemas à terra como o orvalho
que no sono sobre vocês derrubaram –
vocês são muitos – eles parcos.’
THE MASK OF ANARCHY
1. As I lay asleep in Italy There came a voice from over the Sea, And with great power it forth led me To walk in the visions of Poesy.
2. I met Murder on the way – He had a mask like Castlereagh – Very smooth he looked, yet grim; Seven blood-hounds followed him:
3. All were fat; and well they might Be in admirable plight, For one by one, and two by two, He tossed them human hearts to chew Which from his wide cloak he drew.
4. Next came Fraud, and he had on, Like Eldon, an ermined gown; His big tears, for he wept well, Turned to mill-stones as they fell.
5. And the little children, who Round his feet played to and fro, Thinking every tear a gem, Had their brains knocked out by them.
6. Clothed with the Bible, as with light, And the shadows of the night,
Like Sidmouth, next, Hypocrisy On a crocodile rode by.
7. And many more Destructions played In this ghastly masquerade, All disguised, even to the eyes, Like Bishops, lawyers, peers, or spies.
8. Last came Anarchy: he rode On a white horse, splashed with blood; He was pale even to the lips, Like Death in the Apocalypse.
9. And he wore a kingly crown; And in his grasp a sceptre shone; On his brow this mark I saw – 'I AM GOD, AND KING, AND LAW!'
10. With a pace stately and fast, Over English land he passed, Trampling to a mire of blood The adoring multitude.
11. And a mighty troop around, With their trampling shook the ground, Waving each a bloody sword, For the service of their Lord.
12. And with glorious triumph, they Rode through England proud and gay, Drunk as with intoxication
Of the wine of desolation.
13. O'er fields and towns, from sea to sea, Passed the Pageant swift and free, Tearing up, and trampling down; Till they came to London town.
14. And each dweller, panic-stricken, Felt his heart with terror sicken Hearing the tempestuous cry Of the triumph of Anarchy.
15. For with pomp to meet him came, Clothed in arms like blood and flame, The hired murderers, who did sing 'Thou art God, and Law, and King.
16. 'We have waited, weak and lone For thy coming, Mighty One! Our purses are empty, our swords are cold, Give us glory, and blood, and gold.'
17. Lawyers and priests, a motley crowd, To the earth their pale brows bowed; Like a bad prayer not over loud, Whispering – 'Thou art Law and God.' –
18. Then all cried with one accord, 'Thou art King, and God, and Lord; Anarchy, to thee we bow, Be thy name made holy now!'
19. And Anarchy, the Skeleton, Bowed and grinned to every one, As well as if his education Had cost ten millions to the nation.
20. For he knew the Palaces Of our Kings were rightly his; His the sceptre, crown, and globe, And the gold-inwoven robe.
21. So he sent his slaves before To seize upon the Bank and Tower, And was proceeding with intent To meet his pensioned Parliament
22. When one fled past, a maniac maid, And her name was Hope, she said: But she looked more like Despair, And she cried out in the air:
23. 'My father Time is weak and gray With waiting for a better day; See how idiot-like he stands, Fumbling with his palsied hands!
24. 'He has had child after child, And the dust of death is piled Over every one but me – Misery, oh, Misery!'
25. Then she lay down in the street, Right before the horses' feet, Expecting, with a patient eye, Murder, Fraud, and Anarchy.
26. When between her and her foes A mist, a light, an image rose, Small at first, and weak, and frail Like the vapour of a vale:
27. Till as clouds grow on the blast, Like tower-crowned giants striding fast, And glare with lightnings as they fly, And speak in thunder to the sky,
28. It grew – a Shape arrayed in mail Brighter than the viper's scale, And upborne on wings whose grain Was as the light of sunny rain.
29. On its helm, seen far away, A planet, like the Morning's, lay; And those plumes its light rained through Like a shower of crimson dew.
30. With step as soft as wind it passed O'er the heads of men – so fast That they knew the presence there, And looked, – but all was empty air.
31. As flowers beneath May's footstep waken, As stars from Night's loose hair are shaken, As waves arise when loud winds call, Thoughts sprung where'er that step did fall.
32. And the prostrate multitude Looked – and ankle-deep in blood, Hope, that maiden most serene, Was walking with a quiet mien:
33. And Anarchy, the ghastly birth, Lay dead earth upon the earth; The Horse of Death tameless as wind Fled, and with his hoofs did grind To dust the murderers thronged behind.
34. A rushing light of clouds and splendour, A sense awakening and yet tender Was heard and felt – and at its close These words of joy and fear arose
35. As if their own indignant Earth Which gave the sons of England birth Had felt their blood upon her brow, And shuddering with a mother's throe
36. Had turned every drop of blood By which her face had been bedewed To an accent unwithstood, – As if her heart had cried aloud:
37. 'Men of England, heirs of Glory, Heroes of unwritten story, Nurslings of one mighty Mother, Hopes of her, and one another;
38. 'Rise like Lions after slumber In unvanquishable number, Shake your chains to earth like dew Which in sleep had fallen on you – Ye are many – they are few.
39. 'What is Freedom? – ye can tell That which slavery is, too well – For its very name has grown To an echo of your own.
40. ''Tis to work and have such pay As just keeps life from day to day In your limbs, as in a cell For the tyrants' use to dwell,
41. 'So that ye for them are made Loom, and plough, and sword, and spade, With or without your own will bent To their defence and nourishment.
42. ''Tis to see your children weak With their mothers pine and peak, When the winter winds are bleak, – They are dying whilst I speak.
43. ''Tis to hunger for such diet As the rich man in his riot Casts to the fat dogs that lie Surfeiting beneath his eye;
44. ''Tis to let the Ghost of Gold Take from Toil a thousandfold More than e'er its substance could In the tyrannies of old.
45. 'Paper coin – that forgery Of the title-deeds, which ye Hold to something of the worth Of the inheritance of Earth.
46. ''Tis to be a slave in soul And to hold no strong control Over your own wills, but be All that others make of ye.
47. 'And at length when ye complain With a murmur weak and vain 'Tis to see the Tyrant's crew Ride over your wives and you Blood is on the grass like dew.
48. 'Then it is to feel revenge Fiercely thirsting to exchange Blood for blood – and wrong for wrong – Do not thus when ye are strong.
49. 'Birds find rest, in narrow nest When weary of their winged quest; Beasts find fare, in woody lair When storm and snow are in the air.
50. 'Asses, swine, have litter spread And with fitting food are fed; All things have a home but one – Thou, Oh, Englishman, hast none!
51. 'This is Slavery – savage men, Or wild beasts within a den Would endure not as ye do – But such ills they never knew.
52. 'What art thou Freedom? O! could slaves Answer from their living graves This demand – tyrants would flee Like a dream's dim imagery:
53. 'Thou art not, as impostors say, A shadow soon to pass away, A superstition, and a name Echoing from the cave of Fame.
54. 'For the labourer thou art bread, And a comely table spread From his daily labour come In a neat and happy home.
55. Thou art clothes, and fire, and food For the trampled multitude – No – in countries that are free Such starvation cannot be As in England now we see.
56. 'To the rich thou art a check, When his foot is on the neck Of his victim, thou dost make That he treads upon a snake.
57. Thou art Justice – ne'er for gold May thy righteous laws be sold As laws are in England – thou Shield'st alike the high and low.
58. 'Thou art Wisdom – Freemen never Dream that God will damn for ever All who think those things untrue Of which Priests make such ado.
59. 'Thou art Peace – never by thee Would blood and treasure wasted be As tyrants wasted them, when all Leagued to quench thy flame in Gaul.
60. 'What if English toil and blood Was poured forth, even as a flood? It availed, Oh, Liberty, To dim, but not extinguish thee.
61. 'Thou art Love – the rich have kissed Thy feet, and like him following Christ, Give their substance to the free And through the rough world follow thee,
62. 'Or turn their wealth to arms, and make War for thy beloved sake On wealth, and war, and fraud – whence they Drew the power which is their prey.
63. 'Science, Poetry, and Thought Are thy lamps; they make the lot Of the dwellers in a cot So serene, they curse it not.
64. 'Spirit, Patience, Gentleness, All that can adorn and bless Art thou – let deeds, not words, express Thine exceeding loveliness.
65. 'Let a great Assembly be Of the fearless and the free On some spot of English ground Where the plains stretch wide around.
66. 'Let the blue sky overhead, The green earth on which ye tread, All that must eternal be Witness the solemnity.
67. 'From the corners uttermost Of the bounds of English coast; From every hut, village, and town Where those who live and suffer moan For others' misery or their own,
68. 'From the workhouse and the prison Where pale as corpses newly risen, Women, children, young and old Groan for pain, and weep for cold –
69. 'From the haunts of daily life Where is waged the daily strife With common wants and common cares Which sows the human heart with tares –
70. 'Lastly from the palaces Where the murmur of distress Echoes, like the distant sound Of a wind alive around
71. 'Those prison halls of wealth and fashion, Where some few feel such compassion For those who groan, and toil, and wail As must make their brethren pale –
72. 'Ye who suffer woes untold, Or to feel, or to behold Your lost country bought and sold With a price of blood and gold –
73. 'Let a vast assembly be, And with great solemnity Declare with measured words that ye Are, as God has made ye, free –
74. 'Be your strong and simple words Keen to wound as sharpened swords, And wide as targes let them be, With their shade to cover ye.
75. 'Let the tyrants pour around With a quick and startling sound, Like the loosening of a sea, Troops of armed emblazonry.
76. 'Let the charged artillery drive Till the dead air seems alive With the clash of clanging wheels, And the tramp of horses' heels.
77. 'Let the fixed bayonet Gleam with sharp desire to wet Its bright point in English blood Looking keen as one for food.
78. Let the horsemen's scimitars Wheel and flash, like sphereless stars Thirsting to eclipse their burning In a sea of death and mourning.
79. 'Stand ye calm and resolute, Like a forest close and mute, With folded arms and looks which are Weapons of unvanquished war,
80. 'And let Panic, who outspeeds The career of armed steeds Pass, a disregarded shade Through your phalanx undismayed.
81. 'Let the laws of your own land, Good or ill, between ye stand Hand to hand, and foot to foot, Arbiters of the dispute,
82. 'The old laws of England – they Whose reverend heads with age are gray, Children of a wiser day; And whose solemn voice must be Thine own echo – Liberty!
83. 'On those who first should violate Such sacred heralds in their state Rest the blood that must ensue, And it will not rest on you.
84. 'And if then the tyrants dare Let them ride among you there, Slash, and stab, and maim, and hew, – What they like, that let them do.
85. 'With folded arms and steady eyes, And little fear, and less surprise, Look upon them as they slay Till their rage has died away.
86. Then they will return with shame To the place from which they came, And the blood thus shed will speak In hot blushes on their cheek.
87. 'Every woman in the land Will point at them as they stand – They will hardly dare to greet Their acquaintance in the street.
88. 'And the bold, true warriors Who have hugged Danger in wars Will turn to those who would be free, Ashamed of such base company.
89. 'And that slaughter to the Nation Shall steam up like inspiration, Eloquent, oracular; A volcano heard afar.
90. 'And these words shall then become Like Oppression's thundered doom Ringing through each heart and brain, Heard again – again – again –
91. 'Rise like Lions after slumber In unvanquishable number – Shake your chains to earth like dew Which in sleep had fallen on you – Ye are many – they are few.'
Percy Bysshe Shelley foi um dos poetas mais icônicos do Romantismo. Nasceu na Inglaterra, em 1792, filho da nobreza, que logo abandonou pelas aventuras, quase como se a vida fosse uma obra, e devesse ser rigoroso com ela, pondo em prática suas ideias, impossibilitado de dissociar pensamentos de ações. Assim, foi expulso por ateísmo da Universidade de Oxford. Pouco depois, casado e com uma filha, conheceu Mary, filha de William Godwin, filósofo revolucionário que admirava, e resolveram fugir juntos, levando Claire, a irmã postiça dela, no mais famoso ménage da história literária. Compôs um dos mais completos manifestos veganos dos tempos modernos, e pôs em prática essa atitude louvável. Teria vários filhos com Mary, mas apenas um sobreviveria, daí colocarem a culpa no vegetarianismo, o que não é razoável. Durante suas andanças com Mary e Claire, acabou na Suíça, convivendo com Lord Byron, com quem Claire teria uma filha que morreria ainda criança. Ali Byron propõe que escrevessem uma história de terror, e assim nasceu o Frankenstein de Mary Shelley, que Shelley revisou, e o Vampiro de Polidori. Poucos anos depois, tendo escrito obras de suma importância, como A Máscara da Anarquia, vivendo na Itália, em companhia de Byron, comprou um barco, que recebeu o nome de Don Juan, em homenagem à obra-prima byroniana. Tendo sido pego por uma tempestade enquanto velejava, Shelley morreu afogado em julho de 1822. Seus restos foram cremados na praia, em uma espécie de cerimônia pagã realizada por Byron e outros amigos próximos.
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