POESIA VOLUME 5 NÚMERO 1
I
Mais fácil amar um animal
a um homem
por mais bicho que este
homem seja
Os tamanduás dormem abraçados
ao rabo
na entranha da flor vivem os
besouros
as taturanas nas folhas sem sol
os homens
não se sabe ao certo
II
Dizem que a floresta
foi plantada
existia chão algumas sementes
nasceram ali
não eram altas como os troncos
duros do guapuruvu
nem seguiam a luz por entre as clareiras
porque só havia chão algumas sementes
moscas nos charcos
até da terra brotar o corpo
as mãos
que combinam sementes
mais fácil amar um
homem com mãos
grotescas como o abutre
que escolhe para si a copa
plantada
por mãos como as suas
-por isso permanece
À ESPERA
Nas bordas dos vasos
lírios e cactos
pequenos fungos
à espreita dum voo rasteiro-
asas abertas da mariposa-
um pedaço de céu a pousar
nas encostas terrosas.
Não é agosto, apesar do frio
o tempo se move pelas sombras
nas paredes brancas.
PROCESSO CRIATIVO
Quando a terra encrostar
nas bordas dos vasos
e a palavra engasgar a laringe
seca, como as plantas
suas mãos estarão aqui
a desatar os nós das tubulações
e raízes do corpo
em espera
Mariana Marino nasceu em Lins, no interior de São Paulo, em 1990. Reside em Curitiba desde 2003, onde é licenciada em Letras pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mesma instituição em que fez seu mestrado. Atualmente, é doutoranda em Estudos Literários na Universidade Federal do Paraná. Pesquisa possibilidades de aproximação entre poesia e a abordagem teórica Ecocrítica e tem interesse em explorar temáticas da natureza na literatura de mulheres latino-americanas e portuguesas. Integra a Membrana, grupa crítica-afetiva de escritoras e escritores, ouvintes e leitoras e leitores. Também faz parte do grupo interuniversitário de estudos Ecocríticos (GECO).
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