top of page

Maria Grazia Calandrone por Patricia Peterle e Andrea Santurbano

Foto do escritor: REVISTA ZUNÁIREVISTA ZUNÁI


INTERIOR NO INVERNO

para Gaetana, minha avó


sempre que penso em você – mas não é exato

escrever que penso em você, simplesmente

você consiste

no pecado

de amar a vida – vejo a cozinha

no inverno, o atijolado xadrez de granilita branca

e verde, o carrinho cheio

de brócolis e laranjas, as folhas generosas

e escuras despontarem da borda

das sacolas, o ar frio, a geada nos vidros

e o sol de meio-dia

amornar a soleira

de mármore, os vasos

de gerânios no peitoril, as laranjas na bandeja, a cera

passada no chão. Um interior perfeito. E a sua muda

presença sentada

como uma pedra no tempo à beira do rio,

a sua existência concentrada no canto

da cozinha. Enquanto o mundo mudava (a guerra

do Vietnã, Pasolini, Moro,

a queda do Muro

de Berlim) você como os animais

estava sem perguntas. Sem dor. Simplesmente

existir. Existir

e basta. Ser casa como são casa

os corpos, os rejeições, as recuperações.


E seu corpo no final além do limite humano despontava claro

da borda da vida como as folhas

da laranjeira do carrinho. Você existia além do limite,

pra não me deixar sozinha. Curava o desamor

que chegaria, na minha vida

como em qualquer vida, com o seu ser

como a pedra angular

da realidade, a que represa

o inabalável vazio

da matéria, a árvore logo antes do deserto.



INTERIORE INVERNALE

a Gaetana, mia nonna


Ogni volta che ti penso – ma non è esatto

scrivere che ti penso, semplicemente

consisti

nel peccato

di amare la vita – vedo la cucina

d’inverno, l’ammattonato a scacchi di graniglia bianca

e verde, il carrello carico

di broccoli e arance, le foglie generose

e scure sporgere all’orlo

delle buste, l’aria fredda, la brina sui vetri

e il sole di mezzogiorno

intiepidire la soglia

di marmo, i vasi

di gerani al davanzale, le arance sul vassoio, i pavimenti

passati a cera. Un interno perfetto. E la tua muta

presenza seduta

come un sasso negli anni sulla riva del fiume,

la tua esistenza concentrata all’angolo

della cucina. Mentre il mondo cambiava (la guerra

del Vietnam, Pasolini, Moro,

la caduta del Muro

di Berlino) tu come gli animali

stavi senza domande. Senza dolore. Semplicemente

esistere. Esistere

e basta. Essere casa come sono casa

i corpi, gli abbandoni, le guarigioni.


E il tuo corpo alla fine oltre il limite umano sporgeva chiaro

all’orlo della vita come le foglie

d’arancio dal carrello. Esistevi oltre il limite,

per non lasciarmi sola. Curavi il disamore

che sarebbe arrivato, nella mia vita

come in ogni vita, con il tuo essere

come la pietra d’angolo

della realtà, quella che argina

l’incrollabile vuoto

della materia, l’albero appena prima del deserto.


Roma, 28 agosto 2018

De Giardino della Gioia (1964)



Tradução: Patricia Peterle e Andrea Santurbano


Comments


bottom of page