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Foto do escritorREVISTA ZUNÁI

MARCIAL POR IGOR B. BARRETO

Busto de bronze do famoso poeta romano Martial (Marcus Valerius Martialis, 38 – 104), esculpido por Juan Cruz Melero (1910 – 1986).



1.9

Bellus homo et magnus uis idem, Cotta, uideri:

sed qui bellus homo est, Cotta, pusillus homo est.

 

Queres ser um grande homem, Cota, e também um bonitinho;

mas o homem que é um bonitinho, Cota, é um homenzinho.

 

 

1.23

Inuitas nullum nisi cum quo, Cotta, lauaris

et dant conuiuam balnea sola tibi.

Mirabar, quare numquam me, Cotta, uocasses:

iam scio, me nudum displicuisse tibi.

 

Ninguém convidas, fora os que contigo, Cota,

se banham, e só os banhos te dão teus convivas.

Ficava besta, Cota, porque nunca me chamavas…

bem sei: eu, nu, não te interessei.

 

 

2.62

Quod pectus, quod crura tibi, quod bracchia uellis,

quod cincta est breuibus mentula tonsa pilis,

hoc praestes, Labiene, tuae — quis nescit? — amicae.

cui praestes, culum quod, Labiene, pilas?

 

Que depilas o peito, as pernas, os braços,

que o pau raspado é rodeado de pentelhos,

isso fazes, Labieno — quem não vê? — para a tua amada.

Para quem, Labieno, é o cu que depilas?

 

 

3.81

Quid cum femineo tibi, Baetice galle, barathro?

Haec debet medios lambere lingua uiros.

Abscisa est quare Sama tibi mentula testa,

si tibi tam gratus, Baetice, cunnus erat?

Castrandum caput est: nam sis licet inguine gallus,

sacra tamen Cybeles decipis: ore uir es.

 

O que tens a ver, bético Galo, com o profundo feminino?

Tua língua deve lamber homens ao meio,

Por que teu pau foi capado com o gume de Samos,

se para ti era tão boa, bético, uma buceta?

Seja capada a tua cabeça: que, embora sejas Galo na virilha,

os ritos de Cibele esqueces. És homem pela boca.

 

 

3.84

Quid narrat tua moecha? Non puellam

Dixi, Gongylion. Quid ergo? Linguam

 

Que me diz a tua puta? Não é da prima,

Sebastião, de que falo. De que, então? Da língua.

 

 

5.83

Insequeris, fugio; fugis, insequor; haec mihi mens est:

uelle tuum nolo, Dindyme, nolle uolo.

 

Procuras-me, fujo; foges, te procuro: este é meu estilo.

Teu querer não quero, Díndimo, teu não querer, quero.

 

 

6.36

Mentula tam magna est quantus tibi, Papyle, nasus,

ut possis, quotiens arrigis, olfacere.

 

Teu pau é tão grande, Pápilo, quanto teu nariz,

que podes, cada vez que o levantas, cheirá-lo.

 

 

6.91

Sancta ducis summi prohibet censura uetatque

moechari. Gaude, Zoile, non futuis.

 

A santa censura do alto clero proíbe, veta,

pôr chifres. Alegria, Chico!, tu não fodes!

 

 

9.47

Democritos, Zenonas inexplicitosque Platonas

quidquid et hirsutis squalet imaginibus,

sic quasi Pythagorae loqueris successor et heres;

praependet sane nec tibi barba minor.

Sed — quod et hircosis carum est et turpe pilosis —

in molli rigiam clune libenter habes.

Tu, qui sectarum causas et pondera nostri,

dic mihi, percidi, Pannyche, dogma quod est?

 

Falas de Demócritos, Zenões e obscuros Platões,

e de qualquer imundo de feição desgrenhada,

como se fosses sucessor e herdeiro de Pitágoras;

e, a bem da verdade, à tua frente barba menor não há.

Mas — caro aos fedorentos e infame aos peludos —

tens, com prazer, no meio da bunda macia uma coisa dura.

Tu, que contemplas os princípios e valores de nossas escolas,

conte pra mim: em que filosofia, Pânico, dar o cu é dogma?

 

 

11.30

Os male causidicis et dicis olere poetis.

sed fellatori, Zoile, peius olet.

 

Dizes cheirar mal a boca de advogados e poetas.

Mas a dos boqueteiros, Chico…nem te conto do cheiro.

 

 

11.63

Spectas nos, Philomuse, cum lauamur,

et quare mihi tam mutuniati

sint leues pueri, subinde quaeris.

Dicam simpliciter tibi roganti:

pedicant, Philomuse, curiosos.

 

Ficas nos olhando, Filomuso, no banho…

E muito perguntas por que tão pauzudos

e depilados são meus escravos. A ti,

que perguntas, respondo sem rodeios:

é para comer, Filomuso, cu de curioso.

 

 

11.95

Incideris quotiens in basia fellatorum,

in solium puta te mergere, Flacce, caput.

 

Toda vez que caíres nos beijos dos boqueteiros,

dá uma raciocinada, Flaco: estás com a boca na privada.

 

 

12.39

Odi te, quia bellus es, Sabelle.

Res est putida bellus; et Sabellus.

Bellum denique malo, quam Sabellum.

Tabescas utinam, Sabelle belle!

 

Odeio-te, Sabelo, por seres belo.

Algo pútrido um belo qual Sabelo.

Prefiro ao belo de Sabelo o bélico.

Tomara tu te fodas bonito, Sabelo!

 

 

Traduções: Igor B. Barreto.

 


 

Marco Valério Marcial (38-104 d.C), cujo nome latino é Marcus Valerius Martialis, foi um poeta romano de origem hispânica cuja produção de epigramas tornou-se criticamente bem-sucedida pelo seu alto nível formal e caráter diversificado, em que se aborda desde o homoerotismo e a sátira até celebrações matrimoniais e fúnebres. A principal fonte biográfica a seu respeito provém de seus epigramas, conquanto haja informações em uma carta de Plínio, o Jovem, quem lamenta a sua morte e o elogia como homem talentoso, sutil e sagaz. Sua obra completa são o Livro dos Espetáculos, trazido a lume pela inauguração do Coliseu, os livros Xênia e Apoforetas e mais 12 livros de epigramas.

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