POESIA VOLUME 5 NÚMERO 2
ENGRAÇADINHO
quem vê esse pastichar risível
mal sabe dos fados que arrulho
que piam cansados do possível
em costelas de estaladiço barulho
quem as perscrutar ouve pedregulhos
escuta ecos retinindo o impossível
tal bocarra maior que um orgulho
que ralha e se acha compreensível
quem lê essas linhas acha crível
se animar com grandes versalhadas
mas se vem notar o gigante desnível
para de apreciar seresma palhaçada
quem vê esse poemeto já falhado
sabe que fingir anda mais aprazível
são os reflexos de um sorriso talhado
nova desventura do [reb]oco admissível
HIDROFILIA
Faz de minha boca, copo
Cópula de meu corpo, bica
Chove em mim sua preciosa água
(prata)
Rega em porra o que de mim derrama
(pica)
É PROIBIDO PROIBIR
A
Caetano de Dona Canô &
Jacques de Dona Émilie Baudry
Come, jouissance!
Da tua foda, bem ma dá
Que gozo, e que gozo
Findo pouco me fodendo
Se fundo, se cuspo, se metendo
Se como quero, gozo, quero gozo
I’m coming, jouissance!
Nada de poda, de empatar foda
Cingir meus falos, nem castificar
Meus furos (mundos imundos)
Raízes, seivas e fundos
De toda foda, só ela sobra
Só ela dá
XOXOTAS E PATÊS
Tombando palavras ao vinho
Confissões das mais diversas
As expressões tintilam em talheres e copos
E o saborear salgado de patês
Artificiais frutos do mar
Traz à mesa o gosto pela cunilíngua
Longa escrita de surpresas
Fatiando o que não se esperava
Bradando os prazeres da xota
A espalhar olhares esquadrinhados
Desde o jugo do entendimento
Que não importa gênero ou condição
Patês e xoxotas de bandeja
Se abocanham na certeza
De que lambuzar é a ordem
E tomar gosto é o perigo
(A certas línguas tolas, coitadas risadas...)
Eider Madeiros é potiguar de Mossoró (RN) e cria adotada pela Mãe Parahyba há quase uma década. Estuda Literatura contemporânea no doutorado em Letras da Universidade Federal da Paraíba (PPGL, UFPB). Publicou “Amor pluriúsculo no tribunal ôntico” (2018) na revista acadêmico-literária Intransitiva (Rio de Janeiro: UFRJ) e está prestes a publicar seu primeiro livro de poemas, Trinta e três (João Pessoa; Salvador: Escaleras, 2020, no prelo). Os poemas aqui apresentados integram esta obra de estreia.
Comments