POESIA VOLUME 5 NÚMERO 2
AO SOL
Sinto-me no calor do solo
Na cor da lagartixa
No cheiro do alecrim florido
No denso exalar do estrume
Na cíclica mudança
E relume.
AL SOLE
Mi sento nel calore del suolo
Nel colore della lucertola
Nell´ odore del rosmarino fiorito
Nel denso esalare del letame
Nel cíclico cambiamento
E fulgore.
TO THE SUN**
I feel your heat within the ground, In colour of the geckoes, pure, I smell the rosemary all around, O’ercome by smell of fresh manure.
Recurrent cycle of events, Reflected brightness so intense.
À VIDA
Virás ensolarada
pela estrada das pedras.
Postes hão de pontear
os teus passos poeirentos.
E caracóis eternos colarão
sua baba a teu intento.
Arrasto-me no lodo seco
E fujo.
Tu, cão sabujo,
segues-me.
TO LIFE**
There’s sunlight on that rocky road, Posts to guide your faltering course. Perpetual snails, their sticky way Glues your attention, and perforce Into dry silt I crawl and flee, You! wise dog, you follow me.
A O. MANDELSTAM
Só há um amor infindável:
O que a natureza engendra
No âmago das criaturas.
É o amor da seiva da calêndula
Pela raiz dicotiledônica
Que nutre dobradura
De seu ser
L´ amore infinito e` la natura
Che lo genera dentr´ ogni creatura
Come della calendola la linfa
Dalla radice dicotiledonica
Nutre lo stele
Della sua esistenza.
É o amor do anelídeo pela terra
Onde se alonga a e se encerra
À espreita de organismos
que o preencham
HAI Ku
O ruído
O escuro
O ruído escuro
HAI Ku
Il rumore
Il buio (o Lo scuro)
Il rumore buio (o scuro)
HERÁLDICA
O touro, provavelmente
Negro e escarlate, sobre fundo azul
E o manto sibilando ao vento bate
Dourado, em minha mente.
ARALDICA
Probabilmente, il toro
Scarlatto e nero sopra fondo blu
E il manto, sibilando al vento, batte (*)
Dorato, nella mia mente
TO RIMBAUD
And I live out the future, which I create, Of which I am the captive, but can state, Chance event impossible, all virtual, emplaced, Appearance, substance, and even thus effaced That which looming sovereign o’er our fate, The agent to avoid, the act eliminate.
I dismiss then sloth of constant accidie,
Give way to act of stuporous constancy. Like any spider spins his glist’ning screen Not knowing where he’s going, nor where he’s been
** Translated from the Portuguese poems by Geoffrey Lynn. 13/08/03.
Aurora Bernardini é poeta, tradutora e professora de pós-graduação em Russo, Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo (pesquisadora senior). Ocupa-se com tradução literária, ensaística, crítica e criação.
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