TRADUÇÃO VOLUME 5 NÚMERO 2
DIARIO DELLA CENERE
Non sarà mai che tu divenga tenebra
e il giorno avvampi come un bianco foglio:
soltanto un po’ di fumo e un po’ di cenere!
Osip Mandel’štam
1
Da mesi a parlare di pace e ne sappiamo
ben poco. Tra spine, l’erba alta, formiche
e un bosco in fiamme. Il fatto di aver
dormito male mi rende esposto a idee
pericolose. Trascuro i colori delle foglie
e del tramonto, l’allegro volo delle rondini.
2
Camminiamo da ore e tutto questo spazio
allarga la vista, lava all’interno. Il passato
scorre nel fiume, resta la forma di un giorno
che mai sorgerà perché in fuga da un pugno
di stelle. Posso afferrarmi al tuo sguardo
e poi, da un lago di cenere, estrarre l’azzurro.
3
Da anni medito su ciò che pensi e ne so ben
poco. Le parole sono un vezzo d’altri tempi
ma resisto incollato alla scorza dell’abitudine
al terrore del vuoto, del baratro. Vorrei
che mi regalassi un segreto, qualsiasi cosa ma
non questo freddo sorriso che tiene a distanza.
4
A testa bassa per strade torte, deserte
per oblique scalinate che raggiungono
le stelle e lassù passeggiamo e l’erba
delle nuvole ci carezza i piedi. Le mani
sono foglie con l’odore dell’alba quando
con calma si distende su creste innevate.
5
Aspetto che avvampi il buio e mi assale
la nostalgia di te che getti gioia nell’aria.
Cerco la pace e il chiasso sfonda le pareti.
Dare un senso alle pietre che un folle tira
nel pozzo della memoria? Spunta il sole:
magnifico osservarlo come la prima volta.
6
Un male antico può risanare le ferite?
Lavori duro e nessuno se ne accorge:
sgrava il peso o sprofonderai nella palude.
Ci si perde e allo specchio c’è un bambino
triste, pieno di rughe. Il sogno è un viaggio
sotto un vulcano, un precipizio dove tuffarsi.
7
Il primitivo fiume scorre tra pilastri, abbatte
barriere. Tirerò su per te una vigna un orto
una casa. Sotto la corteccia arde l’angoscia
il sole strizza un occhio e resto colpito
dall’attenzione che mi riserva. Il vento sprona
al coraggio, disperde la polvere di questi giorni.
8
Fare qualcosa? Un’accecante luminosità
e il viola scuro della montagna con la casa
sotto il paese dove abbiamo vissuto attimi
che duravano mesi. Ora siamo braccati
da una valanga, non usciamo da giorni
e ci diciamo soltanto lo stretto necessario.
9
Sul vulcano colonne di nuvole cariche
di cenere, per questo restiamo barricati
in casa. Trilla il telefono: - Ciao come va?
- Non così male, un po’ all’indietro e tu?
- Bene, ho finito il mio romanzo. E tu?
- Cancello parecchio di ciò che ho scritto.
10
Spiove ed è bello contare sul sorriso del sole.
Un pezzo di gioia tutta nostra dove piantare
alberi, vederli fiorire. Gorgheggia il pettirosso
sembra una sfida, chi spintona verso il recinto?
Attesa: sì, parola difficile da pronunciare
perché da decenni sappiamo che mai avrà fine.
11
Se rido è perché ho pianto tutta la notte
e il giorno ha la sua parte di follia. Gli uccelli
non sbagliano una nota se li ascolti, il loro
canto è perfetto e salutare sebbene, talvolta,
noioso. Resistere era lo scopo prioritario
ora insonnoliti affrontiamo la cenere, il fumo.
12
Tra noi un muro di ombre da attraversare
a nuoto e in solitaria, una bracciata dietro
l’altra e allora scrivo questo diario per non
spezzarmi e svanire. In nessuno modo vuoi
parlarne e davanti al vulcano in eruzione
avanziamo (chiusi in casa) come se nulla fosse.
Roma, aprile 2020
DIARIO DAS CINZAS
Ó céu, céu, ver-te-ei nos sonhos.
Jamais será que tu te tornes treva
e o dia chameje feito um fólio branco:
somente pouco fumo e poucas cinzas !
OSsip Mandelstam
1
Há meses falando de paz e bem pouco
sabemos. Entre espinhos, grama alta, formigas
e um bosque em chamas. O fato de ter
dormido mal torna-me exposto a ideias
perigosas. Descuido das cores das folhagens
e do poente, o alegre voo das andorinhas.
2
Caminhamos faz horas e esse espaço todo
alarga a vista, lava por dentro. O passado
escorre no rio, resta a forma de um dia
que nunca despontará porque foge de um punhado
de estrelas. Posso agarrar-me a teu olhar
e depois, de um lago de cinzas, extrair o azul.
3
Há anos medito no que pensas e pouco
sei. As palavras são um vezo de outros tempos
mas resisto colado à casca do costume
ao terror do vazio, do barranco. Queria
que me doasses um segredo, qualquer coisa mas
não este frio sorriso que me afasta.
4
A testa abaixada por estradas tortas, desertas
por escadarias oblíquas que alcançam
as estrelas e lá de cima passeamos e a grama
das nuvens alisa nossos pés. As mãos
são folhas com o odor da alvorada quando
com calma se estende sobre as cristas nevadas.
5
Espero que queime a escuridão e a nostalgia
me assalta de ti que jogas para o ar a alegria.
Procuro a paz e o ruído arromba as paredes.
Dar um sentido às pedras que um maluco atira
no poço da memória? Desponta o sol:
magnífico observá-lo como a primeira vez.
6
Pode um mal antigo sarar as feridas?
Trabalhas muito e ninguém percebe:
alivia-te do peso ou afundarás no pântano.
Perdemo-nos e no espelho há um menino
triste, cheio de rugas. O sonho é uma viagem
debaixo de um vulcão, um abismo onde afundar-se.
7
O rio primitivo escorre entre pilastras, abate
barreiras. Levantarei para ti um vinhedo um horto
uma casa. Sob a casca arde a angústia
o sol pisca para mim e me impressiona
a atenção que me é dada. O vento incentiva
à coragem, dispersa a poeira desses dias.
8
Fazer alguma coisa? Uma cegante luminosidade
e o escuro violeta da montagna com a casa
embaixo, a vila onde vivemos instantes
que duravam meses. Somos agora acuados
por uma avalanche, há dias não saímos
e nos dizemos apenas o estrito necessário.
9
No vulcão há colunas de nuvens carregadas
de cinzas, por isso ficamos barricados
em casa. Toca o telefone : - Olá, como vai?
- Nem tão mal assim, um pouco para trás e tu?
- Bem, acabei meu romance. E tu?
- apagando muita coisa que escrevi.
10
A chuva para e é bom contar com o sorriso do sol.
Um pedaço de alegria toda nossa onde plantar
árvores, vê-las florescer. Gorjeia o pintarroxo
parece um desafio, quem empurra para a cerca?
Espera: sim, palavra difícil de se pronunciar
porque há décadas sabemos que nunca terá fim.
11
Se rio é porque chorei a noite inteira
e o dia tem sua parte de loucura. Os pássaros
não se enganam de uma nota se os ouves, seu
canto é perfeito e salutar, embora, às vezes,
aborreça. Resistir era o escopo prioritário
agora, sonolentos, enfrentamos as cinzas, a fumaça.
12
Entre nós um muro de sombras para cruzar
nadando e sós, uma braçada atrás
da outra e então escrevo esse diário para não
quebrar-me e desaparecer. Não queres falar disso
de modo algum diante de um vulcão em erupção
avançamos (presos em casa) como se nada fosse.
Roma, abril 2020
Traduções: Aurora Bernardini
Alessio Brandolini nasceu em Frascati em 1958 e vive em Roma, onde se licenciou em Letras. Publicou livros de poemas: L’alba a piazza Navona (1992, Prêmio Montale - Inédito), Divisori orientali (2002, Prêmio Alfonso Gatto – Obra-prima), Poesie della terra (2004), Il male inconsapevole (2005), Mappe colombiane (2007; também em castelhano: Mapas colombianos, Colombia 2015), Tevere in fiamme (2008, Prêmio Sandro Penna), Il fiume nel mare (2010, Finalista Prêmio Camaiore) e Nello sguardo del lupo (2014; também em castelhano: En la mirada del lobo, México 2018). Em 2016 saiu sua antologia Il futuro è un campo incolto (1992-2014) e em 2017 Il volto e il viaggio (com desenhos de Stefano Cardinali). Na Costa Rica foram publicas as antologias En el ojo del lobo (2009) e Desde otro planeta (2014), na Colombia Llamo desde otro planeta (2016), na Argentina El camino de regreso (2019). Em 2013 publicou o livro de contos Un bosco nel muro. Traduz do castelhano e desde 2006 coordena Fili d’aquilone, revista web de «imagens, ideias e Poesia». Em 2011 fundou a editora Edizioni Fili d’Aquilone.
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