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Foto do escritorREVISTA ZUNÁI

5 poemas de Neurivan Sousa



APELO

Para Silvana Meneses


Os dias carregam gripe pneumonia


sobre cidades e aldeias

o vírus sopra sua epígrafe


o terror ateia cruzes

na testa do amanhã


as sirenes acinzentam

as chances de vitória


a severidade do mal

apaga nossos deuses


o abraço agora é pássaro extinto


ainda assim eu peço: não me impeçam de amar


amar em última instância é toda saúde que tenho.




TRÍADE

Para Adriano Lobão


Três almas aquáticas

atadas ao mesmo fio

de silêncios e distâncias


a contornar as margens

deste rio que as retém

o éter o óxido o hálito


de um deus que rege

as águas e percursos

de cardumes e cadáveres.



ITINERÁRIO DAS FORMIGAS

Para Antonio Aílton


Aprender com as formigas o itinerário do inadiável o inventário das urgências


seus caminhos são velozes colheitas enfileiradas a fios e feromônios do instável


há de se armazenar os grãos da sobrevivência enquanto o sol tem fôlego


fazer das sobras somas contra a avareza do tempo antes que os céus desabem


pois o dia é uma marcha de fome fuga e quedas no vórtice das incertezas


cortar a língua do tempo em pequenos pergaminhos de grânulos folhas gravetos


como quem esboça para si um par de asas luminosas para além do transitório


as formigas são mais sábias do que os pés que as esmagam na prepotência dos neurônios.




EVIDÊNCIAS ÓSSSEAS


No branco cal da ossatura

vê-se a igualdade dos seres

ante à anatomia da finitude


entre fêmur e crânio

sob o escárnio do silêncio

o flúor do desmanche

escreve a sua epígrafe:


num túmulo sem ossos

não há testemunho algum

de vida morte ou verso


acaso não seria esta ossada

a nossa verdadeira alma?




IMPERMANÊNCIA

Ao poeta Carvalho Junior, in memoriam


Os poetas partem sem despedida e fazem disso um parto sem choro para não poetizar suas fragilidades


ainda assim seu expirar é verso aberto em oposição ao transitório canto de ganso em migração


deixa nas laudas dos viventes um testemunho branco-sustenido para além das lágrimas e preces


um dizer que retine nas ranhuras deste relevo de impermanências para que o sol amanhã o decifre.





Neurivan Sousa é poeta e professor, natural de Magalhães de Almeida-MA (1974), mas radicado em Santa Rita. Membro fundador da Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI) e Membro Correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (AICLA). É autor de Lume (2015), Palavras sonâmbulas (2016), Minha estampa é da cor do tempo (2018), da trilogia infantojuvenil O pequeno poeta, e o infantil Ribamar – o menino peixe.

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