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Foto do escritorREVISTA ZUNÁI

5 POEMAS DE NAYARA MOREIRA

Atualizado: 23 de jul.

Arte de Cyane Pacheco



INTERESTATAL


É só um homem,

eu repito

 

Nada mais que um homem

vivendo às margens do mundo

 

E, de margem, veja,

já basta essa


 

ARRANCO CENTRÍFUGO


A língua como denúncia

 

A língua que nos entrega

aos outros bichos ao júri

 

O desejo inaugurado

no estômago maxilar no topo da cabeça

nas costas que mal notam

vergar na cadeira

um pedido de socorro

sem contar as mãos

você viu, as mãos

 

O desejo como remissão dos pecados

 

Muito se fala do silêncio mas

o que dizer de tudo o que versei

para não declarar idônea

a vontade da língua?


 

O DESEJO


O sentido no espaço entre dois canivetes


 

A ORIGEM

Até a aridez dos pulmões cria discursos

no decurso de uma vida

Ao oeste, uma voz lia sem ler

o retorno talvez de outra peste

 

Dizia que a fronteira está orientada

para fora

e por isso mesmo provoca temor

no governo central

quando o homem se inclinou

 

Duas presas capturadas em silêncio


 

O CONFLITO

Ele girou o animal de um único olho

Seguimos ao centro mais uma vez

O corpo medeia o sentido sem lugar

A nuca do transeunte sua por demão


 

Nayara Moreira é professora e tradutora. Pesquisa literatura contemporânea na área de semiótica e linguística geral do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

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