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Foto do escritorREVISTA ZUNÁI

3 POEMAS DE JORGE LÚCIO DE CAMPOS

Atualizado: 23 de jul.

Arte de Cyane Pacheco


AINDA


Nem começo nem fim.

Onde você, teu jeito de

andar, respirar à flor da pele.

Muito a dizer de você

ainda.


 

O QUADRO DA NOITE


Vi a noite empoleirada

num galho e tudo

estava em paz.

 

O pântano sorria ao

redor. Ao astros a

erguiam nos braços.

 

Seu verniz corria na

casca de um tronco

e batizava a terra.


 

EU, MANEQUIM

a Hans Bellmer


Meus restos vão no canto:

meus cabelos pujantes,

minhas galochas dançantes,

assoalho afora.

 

Meus restos vão no canto,

como nunca foram.

Meus órgãos são

devaneios gráficos.

 

Meus restos vão no canto.

Meu falo fumegante

empurrei-o no ânus

na ânsia de contê-lo.

 

Meus restos vão no canto.

Um cutelo me esculpe

e a carne enche

a alma de medo.

 

Meus restos vão no canto,

como um ovo cozido,

uma coruja vesga

deflorada em luz.

 

Meus restos vão no canto:

meus amores trepados,

a beleza do urinol

que espia a cena.

 

Meus restos vão no canto

e não sei o que dizer.

Não antes disso.

Não antes do poema.

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