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2 poemas de Hudson R. Santos

Foto do escritor: REVISTA ZUNÁIREVISTA ZUNÁI


NINGUÉM


o cemitério fala com o inferno

o que é horrível nas epígrafes da viagem

dos nomes e das tumbas

a noite termina em teus lábios


outono encontrado

em algo antigo

de onde ninguém volta

ninguém alcança o voo

do nunca mais

ninguém quer destruir teu luar


a miséria louca

grita no corredor do nada

sua vingança será um amor

demasiado pequeno

demasiado só


a luz do dia

tem certezas velozes

a rosa das nuvens

te deslumbra

a rosa do nada


sentiste em sonho

as vagas do mar

quebrando em meu peito




ARCO-ÍRIS


não queres recordar mais

o que foi destruído

algumas vozes

e alguns ecos

materializam o pouco que somos


damos menos importância

ao que imaginamos

até o último nada

e na cama no verão

imaginamos o frio

e a garoa de uma rua solitária


as coisas escorrem

pela língua

um assombro acústico

entrada proibida

na porta do nada


as flores tecem teu caminho

até a lágrima

não há árvores em torno

de tua casa

nem mar


uma enxame de estrelas

em teu jardim quebra

contra tua voz

a determinação do tigre

move tua mão de neblina

e saudade

tua voz ascende uma palavra

na dobra da noite


sou um outro

sou minha negação

e sou neutro

no silêncio da solidão

o desejo sempre aceso

na dobra do corpo

na dobra do outro

e seu centro


***


se extraviaram as horas

e os poemas perdem suas palavras

eu fui nada do nada

um grito no vidro da noite

uma cicatriz na neblina


sonhos pesados

são esquecidos

no espelho

e no açude

a porta do céu

flutua à tua frente

a página em branco

é um caminho


***


silenciar, viver o não escrito

sondar vertigens

o mar escuro de tua voz amarga

pálido lago azul do céu

a dor e a espera


***


a morte revolveu tuas cinzas

na região dos distantes

bebi em teu poço

um céu em ruínas

cego repousei ao teu lado

até as rosas se incendiarem


a febre no azul dos teus olhos

está fechada no jarro dos sonhos

as horas rondam teu signo

até se tornar tigre ou espelho

pensas em pinheiros sangrentos

e jogas o silêncio pela janela


o rio do silêncio outona

tua neblina

teus cavalos alados

tua epiderme

a flor do tempo


não quero viver teu pensamento abstrato

não quero a rosa em pétalas

em tua face irreconhecível

longe do caos

quero deitar na relva

e contemplar

o arco estelar


a mão que nos separa

degola sereias e crepúsculos

deixei meu coração em tua janela

fui uma árvore num outono distante

pela escada da noite

cheguei até uma hora vazia

em ruas de sonho me perdi


a morte obscura balança

enforcada noite adentro

com as mãos cheias de anos

olhas o mar

e sussurras uma senda

no infinito da distância


meia noite e estou escuro

sou a lágrima

o punhal

e alguém que desapareceu

dos teus olhos

o tempo estrangulado

te dá outra existência

estrela distante

no bico do corvo

o signo é uma essência


o céu detém teus olhos

com uma chuva lenta

eu fumo e leio poemas


***


tudo esta por vir

inclusive nós

o cristal do espelho

é como tua distância

que ultrapassa uma nuvem

e uma estrela


brincas com os relâmpagos

na chuva

teu coração está

num barco na noite


velozmente dormimos

e chegamos ao crepúsculo

nas rosas de sangue

que giram entre

as horas


a chuva detém teus olhos

costura teu humor

ao infinito

o cadáver do mar

é tragado pela lua


uma dia raro

entre os ventos brutais

de tua ausência

a estrela oculta sua chama

nos teus olhos


pegadas escuras

em claros sonhos


o rio se levanta e caminha

areia adormecida

na manhã d’água

a trabalho das mãos

alumia o vento

na praia


no mais profundo

da memória

respiro teus astros

e chamávamos morte

o que florescia

no espelho


***


vaga tua sombra

por um lugar ignorado

a doce manhã de agosto

chora corvos


a praia aberta

nada em teu corpo

presente

chove a manhã

inteira


sonhamos despertos

o silêncio onde dormimos

o verão responde sua face ao vento

na obscuridade das nossas vozes

tramam peregrinações até o último segundo


***


outros olhos te encontram

num tempo exato e vazio

no último minuto da identidade

o corvo secreto

de incógnitas palavras

nos mares do nada


a febre dos minutos

cruza com a luz do caminho

as noite vêm e vão

num bordado branco

de alvoradas


***


as ruínas do verão

nos deixou atrasados

para a alma do tempo

ardem sonhos congelados

e se perseguem sereias

em tua voz escura


a imagem

e sua miríade de olhos

perseguem o pó

até encontrar um rosto

que quando soprado

das dunas

tem seus traços alterados


atravessamos a vasta

cegueira do nada

e respirados os caminhos

internos junto ao coração

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